Goiás, setembro de 2024
Queridos amigos e queridas amigas,
O mês de setembro é tradicionalmente dedicado às Sagradas Escrituras, proporcionando um tempo de comunhão, estudo e vivência de um livro específico da Bíblia. Neste ano, a Igreja propõe para nossa reflexão o livro do profeta Ezequiel, com o lema: “Porei em vós meu espírito e vivereis”(cf. Ez 37,14).Esse profeta ajuda o povo a recuperar a esperança durante o exílio para a Babilônia.
Ezequiel, cujo nome significa “tem a força de Deus”, foi chamado por Deus para ser profeta em um período muito difícil, que marcou a história bíblica e de fé do povo judeu: o exílio para a Babilônia (597-538 a.C). Foi tempo de sofrimento, de corrupção e injustiças, mas também de amadurecimento. Ele ajudou as lideranças a tomarem consciência da sua corresponsabilidade no fracasso histórico, a refletir sobre as suas causas, mas também a ter esperança e a se empenhar na construção de uma nova sociedade, fraterna, justa e livre. O Espírito de Deus, colocado no coração de cada pessoa, concederá força e disposição para cumprir a tarefa.
A Bíblia deve ser o principal instrumento que alimenta a nossa caminhada de fé, a vida da comunidade, um dos pilares fundamentais para a evangelização e a formação dos discípulos missionários, conforme o Documento de Aparecida (cf. n. 248). Ela deve ser contextualizada e atualizada, ajudando a iluminar e transformar a nossa história. Nesse sentido, é salutar que nossas comunidades e famílias valorizem a sua reflexão, a tenham como fonte para a oração, celebrem-na com amor, especialmente neste mês que lhe dedicamos. Assim como parte do povo de Deus no exílio acolheu a palavra de Ezequiel e se converteu, podemos atualizá-la para diversas situações na vida de nossas comunidades e em nossas vidas pessoais.
A profecia de Ezequiel, com a imagem dos ossos secos que se unem e recebem vida (cf. Ez 37,1-14), é símbolo de esperança e renovação. Mesmo em meio à desolação e ao desespero, Ezequiel mostrou que a vida pode surgir das cinzas e que Deus é capaz de restaurar o que está quebrado. Em tempos de crises, conflitos e incertezas, a necessidade de esperança é universal. Atualizar a profecia de Ezequiel inclui identificar os “ossos secos” da nossa época: desigualdade social, a crise ambiental, a polarização política, a solidão e o isolamento são apenas alguns exemplos. A esperança para o futuro depende do fortalecimento de comunidades para que sejam mais justas, solidárias e inclusivas.
O Livro do Profeta Ezequiel é um tesouro a ser redescoberto em cada geração. Ao atualizar sua mensagem para os desafios do nosso tempo, podemos encontrar novas fontes de esperança e inspiração para construir um futuro mais justo e sustentável para todos. Que nossos agentes de pastorais, nossas paróquias, as CEBs e nossas famílias se reúnam para participar dos encontros propostos, ouvindo a palavra do profeta, refletindo sobre sua mensagem e atualizando-a. Que o Espírito divino esteja presente na nossa caminhada de povo de Deus!
Neste mês, também celebramos a Semana da Pátria, que rememora a proclamação da “independência” do Brasil de Portugal, ocorrida em 7 de setembro de 1822. Enquanto marco histórico que fortaleceu a identidade brasileira e o sentimento de patriotismo, também é um momento para refletirmos sobre o bem coletivo, os direitos e deveres de cada cidadão e o futuro do nosso país. Neste ano, essa reflexão se aprofunda com o Grito dos Excluídos e Excluídas, que traz à tona as persistentes desigualdades em nossa sociedade. Nessa edição, o tema “Vida em Primeiro Lugar” e o lema “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?” 30 anos tecendo o Brasil que a gente quer” ressoa como um chamado urgente por justiça social, ambiental e por uma pátria verdadeiramente inclusiva. Em carta, o Presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sóciotransformadora, Dom José Valdeci dos Santos Mendes, Bispo da Diocese de Brejo – MA, expressa que a Comissão compreende e apoia as iniciativas do Grito dos Excluídos como oportunidades importantes na defesa dos direitos e promoção da cidadania e participação popular, missão da Igreja [1]. O Grito dos Excluídos reafirma a importância de construirmos um país mais justo e fraterno, onde os direitos humanos sejam garantidos a todos, independentemente de suas origens ou condições sociais. Apoiemos esse Grito dos Excluídos, fortaleçamos o clamor por políticas que reduzam as desigualdades, invistam em educação, saúde, pleno emprego e assumam a urgente causa ecológica. Tenhamos presente em nossas orações o nosso país tão machucado e sofrido, com as marcas da injustiça e da violência contra os mais pobres, mas também esperançoso de vida plena para todos e todas.
Por fim, já começou nos diversos municípios a campanha eleitoral para o executivo e o legislativo. A política é uma nobre forma de viver a caridade. A fé cristã exige o nosso compromisso político, que não deve ser restrito ao voto. Devemos participar de modo ativo e responsável deste momento. Em vista das polarizações dos últimos tempos, exorto todos a debaterem as propostas e manifestarem suas preferências pessoais de modo pacífico e respeitando o diferente. A escolha dos candidatos seja guiada por critérios éticos, elegendo aqueles comprometidos com a justiça, a verdade, o bem comum, a defesa da ecologia integral e a atenção especial aos mais pobres e vulneráveis. Para ajudar a iluminar essa escolha, nosso regional Centro-Oeste publicará algumas orientações em breve.
Recebam meu abraço fraterno, minhas orações e comunhão! Bom estudo do Livro de Ezequiel!
+Dom Jeová Elias
Bispo de Goiás