InícioReflexão BíblicaNinguém deve ser excluído da alegria do Evangelho

Ninguém deve ser excluído da alegria do Evangelho

Neste domingo celebramos a Solenidade da Ascensão do Senhor, isto é, a volta de Jesus ao seio do Pai. Esse retorno ocorre de um modo novo, levando consigo a nossa humanidade e restituindo a dignidade de cada ser humano.  “Ele, nossa cabeça e princípio, nos precedeu, não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar a nós, membros de seu corpo, a confiança de um dia o seguirmos” (Prefácio da Ascensão do Senhor, I). Ele permanece presente na Igreja, povo de Deus, nos seus discípulos missionários, continuadores da sua missão.

O Evangelho desta Solenidade é a conclusão de Marcos. Segundo muitos estudiosos da Bíblia, o texto não pertencia originalmente ao evangelista. A conclusão acolhida por São Marcos apresenta a manifestação de Jesus ressuscitado aos onze discípulos com o mandato: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”! (Mc 16,15). O ide, ordenado por Jesus, é exigente: impele a sair de si, a encontrar-se com os outros, a romper as cascas do nosso egoísmo, a deixar de dar volta em torno de si mesmo, pois o mundo é muito maior, como lembrava Dom Hélder Câmara ao falar sobre missão. Não é simplesmente percorrer longos espaços geográficos, mas manifestar o amor ilimitado de Deus a todos os seres.

O papa Francisco dedica o segundo capítulo da exortação apostólica “A Alegria do Evangelho” ao tema da transformação missionária da Igreja. Ele toma como referência o mandato do ressuscitado aos seus discípulos a irem pelo mundo inteiro anunciando o Evangelho (cf. EG n. 19). Lembra os chamados que Deus fez ao longo da história da salvação e destaca que “naquele «ide» de Jesus estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída» missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG n. 20).

Jesus envia os missionários para anunciar o Evangelho no mundo inteiro, a toda criatura (v. 15). A palavra “Evangelho” significa “Boa Notícia”. Essa boa notícia é a própria pessoa de Jesus. Ele é o Evangelho vivo de Deus. É Ele que devemos comunicar, não simplesmente com palavras, mas com a nossa vida. Jesus é a melhor notícia que Deus mandou para a humanidade! O papa Francisco diz que “todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anunciá-lo, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível” (Evangelii Gaudium n. 14). Ninguém deve ser excluído da alegria trazida por Jesus (cf. Evangelii Gaudium n. 3).  Diz ainda, citando o Documento de Aparecida, que “não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos, sendo necessário passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (Evangelii Gaudium n. 15). Sermos  Igreja em saída é a grande insistência que faz o papa Francisco. Ele diz que “sair de si mesmo para se unir aos outros faz bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo da imanência, e a humanidade perderá com cada opção egoísta que fizermos” (EG n. 87). Esse pedido enfrenta o desafio deixado pela pandemia que obrigou as pessoas a se recolherem, a se trancarem. Algumas pessoas gostaram e permanecem fechadas no seu mundo. Mas temos esperança de que também sintam a necessidade de romper essas barreiras para experimentarem a alegria de encontrar-se com os outros.

Na solenidade da Ascensão do Senhor celebramos também o 58º dia das comunicações sociais. Na mensagem deste ano o papa Francisco aborda o tema da Inteligência Artificial e a sabedoria do coração, defendendo uma comunicação plenamente humana. Ele constata as transformações advindas da “inteligência artificial” que suscita entusiasmo em tantos e, ao mesmo tempo, assusta e provoca desorientação. Convida-nos a não rejeitar as boas novidades tecnológicas, mas com o devido discernimento. Conforme o papa, a nossa reflexão deve partir do coração, como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, símbolo dos afetos, dos desejos, dos sonhos e lugar interior do encontro com Deus. “Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós”. Compete ao ser humano decidir com autonomia, liberdade e sabedoria, e orientar os sistemas de Inteligência Artificial para uma comunicação plenamente humana.

Também iniciamos neste domingo a celebração da semana de oração pela unidade cristã. O tema proposto é: “Amarás a Deus e à pessoa próxima como a ti mesmo” (cf. Lc 10,27), inspirado na proposta dos cristãos de Burkina Fasso que enfrentam perseguição por parte de grupos extremistas, inclusive com muitos assassinatos de cristãos. O tema alerta-nos para o risco de perseguição que alguns grupos cristãos podem cometer contra as pessoas que creem e pensam diferente, exigindo o nosso compromisso em defender o respeito aos que professam outra fé.

Neste segundo domingo de maio festejamos nossas mães. A elas nossa gratidão por dizerem sim ao chamado de Deus e acolherem a vida dos seus filhos como um precioso dom divino. Elas transmitem a vida e são as primeiras comunicadoras do Evangelho. São as primeiras catequistas dos seus filhos, com seus ensinamentos e exemplos de vida. Certamente enfrentam tantos desafios para cumprirem fielmente a missão recebida. Pedimos ao bom Deus que abençoe, ilumine e conceda os meios necessários a todas as mães para serem fieis à missão recebida. Que experimentem a alegria da maternidade no seio de suas famílias. Bendito seja Deus por todas as mães!

Concluo a reflexão deste domingo com a palavra do servo de Deus dom Helder Câmara: “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo” (Dom Helder Câmara)[1].

+Dom Jeová Elias

Bispo de Goiás


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