A partir deste IV domingo do Advento, já às portas do Natal de Jesus, a liturgia destaca a pessoa de Maria. Estamos no segundo período do Advento, que teve início no dia 17 e se estenderá até a manhã do dia 24. No primeiro período, a liturgia orientava o nosso olhar à segunda vinda de Jesus e a estarmos atentos para acolhê-lo, pois não sabemos quando Ele virá ao encontro definitivo conosco. Agora nos convida a preparar o coração para acolher o Senhor no Natal, que celebraremos no próximo domingo.
Mateus, no Evangelho deste domingo, destaca a pessoa de Maria, que também estará presente ao longo da liturgia desta semana. Nela, o projeto de Deus se realiza, a Palavra se tornará carne e habitará entre nós. O evangelista diz que Maria, prometida em casamento a José, ficou grávida pela ação do Espírito Santo, o que ocasionou a desconfiança de José, que, por ser justo, resolveu deixá-la em segredo, sem denunciá-la. A imagem de Maria grávida é o símbolo mais eloquente da alegre expectativa deste tempo do Advento, da espera do querido Filho que entra na nossa história para dar sentido à nossa vida. Maria é símbolo de todos os empobrecidos que anseiam por vida digna, que correm riscos de ser incompreendidos e acusados por dizer sim ao projeto de Deus. Maria foi corajosa quando disse sim ao chamado para ser a mãe de Jesus, e se tornou modelo de todos os que se preparam para acolher o Senhor.
O texto de Mateus pertence à narrativa sobre a infância de Jesus, possui um gênero literário especial que usa alguns símbolos – anjos, aparições, sonhos – desprovido de preocupação histórica, com a intenção de ensinar sobre a pessoa de Jesus: sua origem, sua missão, sua presença entre nós. Além disso, apresenta a situação de Maria e José. As palavras de maior destaque no Evangelho deste domingo são referentes à Sagrada Família: Maria (3 vezes), José (5 vezes), Jesus (2 vezes), além de marido, esposa, filho e Espírito Santo. Mateus inicia o seu Evangelho descrevendo a origem de Jesus, da descendência de Davi, que provém de Abraão (Cf. Mt 1,1), mas culminando em José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus (Cf. Mt 1,16). Não diz que José é o genitor de Jesus.
Mateus afirma, explicando a origem de Jesus, que Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo (v. 18). Diz ainda que José, seu marido, que era justo, resolveu abandoná-la em segredo, sem apresentar denúncia (v. 19). O casamento entre os judeus ocorria em duas etapas: o contrato, uma espécie de noivado estável, inclusive com a possibilidade de intimidade entre o casal; e, num segundo momento, o homem levava a mulher para viver na mesma casa. Maria e José vivem a primeira etapa. A infidelidade da “prometida” era equiparada ao adultério e incorria na penalidade prevista pela lei, que poderia ser a morte por apedrejamento público (Cf. Dt 22,23-24). Para alguns autores, ao ser chamado justo, e ao manter segredo, não denunciando Maria e se retirando, ele a pouparia de uma humilhação pública. Para outros autores, o gesto de José seria o reconhecimento da ação de Deus na sua vida, com o temor de tomar Maria como esposa, retirando-se diante do mistério divino, por considerar-se pequeno. Mas Deus constrói a história da salvação exatamente a partir dos pobres (Cf. Bortolini, Roteiros homiléticos, ano A,B,C, p. 26).
Conforme o evangelista Lucas, Maria foi visitada pelo anjo e chamada por Deus à missão de ser a mãe do salvador. Para Mateus, também José é visitado em sonho pelo anjo e convidado a assumir a paternidade de Jesus. Ambos dizem sim ao chamado divino. Maria fora convidada a não ter medo, pois encontrara graça diante de Deus (Cf. Lc 1,30). José também é convidado a não ter medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo (vv. 20-21). José faz como o anjo propõe no sonho e dará o nome ao menino que nascerá, assumindo a paternidade e transmitindo-lhe a dinastia de Davi. Ao dar nome aos filhos, os pais indicavam a missão que eles desempenhariam na sociedade. Contudo, a missão de Jesus não é escolha humana, mas divina. Seu nome não foi escolhido por José, nem por Maria, mas por Deus Pai. Jesus significa Deus salva. Em Jesus, Deus vem salvar o seu povo (v. 21), como cantamos com alegre expectativa neste tempo do Advento: “Senhor, vem salvar teu povo, das trevas da escravidão! Só tu és nossa esperança, és nossa libertação! ” O outro nome, Emanuel, mencionado por Mateus como cumprimento da profecia de Isaías (v. 23; Cf. Is 7,14), indica não o nome próprio de Jesus, mas o significado da sua existência: Deus que caminha com o seu povo. Ele assume a nossa condição no seio de Maria, torna-se humano como nós, vem ao nosso encontro na nossa fragilidade, conforme rezamos no prefácio do Advento n. I: “Revestido da nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação”. Em Jesus, nascido de Maria, Deus caminha para sempre com o seu povo.
Queridos amigos e queridas amigas, chegamos à última semana do Advento, tempo de preparar o nosso coração para acolher o Emanuel, o Deus conosco, que, numa frágil criança, abre os braços ao nosso acolhimento. Que passos demos? Como está a nossa preparação? Um belo modelo de preparação é a mulher grávida. Neste domingo temos em Maria esse modelo. Deus precisou do seu sim para enviar Jesus. Ela se preparou para acolhê-lo. Como Maria, também precisamos abrir o nosso coração para acolher Jesus Cristo. Isto talvez implique modificar nossos planos, nossa maneira de pensar e de viver (Cf. Ione Buyst, Preparando Advento e Natal, p. 27). Nesta última semana dediquemos uma atenção especial à Maria na nossa oração.
+Dom Jeová Elias
Bispo Diocesano