Continuamos a nossa preparação para receber o Senhor que vem ao nosso encontro, neste segundo domingo do Advento. Estamos em alegre expectativa para acolhê-lo. Hoje, e no próximo domingo, o Evangelho destaca a pessoa do profeta João Batista, na pedagogia de preparação para o acolhimento de Jesus. É tempo de piedosa e alegre expectativa!
O evangelista Mateus, que nos conduzirá ao longo deste ano litúrgico, apresenta o profeta João Batista, precursor que une o antigo ao novo. Diz que ele apareceu no deserto. O deserto tem um simbolismo bíblico interessante: é lugar de solidão e provação, mas também lugar onde se gesta o projeto de uma nova humanidade, lugar de ser encontrado, amado e protegido por Deus. Conforme rezamos na Liturgia das horas: “Foi num deserto que o Senhor achou seu povo, num lugar de solidão desoladora; cercou-o de cuidados e carinhos e o guardou como a pupila de seus olhos” (Dt 32,10). João Batista inicia o seu ministério pregando no deserto da Judeia (v. 1). Ele, provavelmente, tinha alguma ligação com os monges essênios da comunidade de Qumran. Está muito distante do templo de Jerusalém e da sua prática religiosa. A sua missão parte da periferia e não do centro do poder. A sua pregação é um convite à conversão: “convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (v. 2).
Mateus, além de mencionar o local onde aparece João Batista, também o descreve com uma aparência e alimentação destoantes: vestia roupa de pelos de camelo, usava um cinturão de couro na cintura e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (v. 4). O estilo dele diverge da sociedade de Jerusalém movida pelo comércio e pela sede do lucro. Sua própria aparência já é um anúncio do novo que está irrompendo. Seu ministério não está ligado ao templo de Jerusalém, suas vestes não são finas como as que usavam os sacerdotes, sua alimentação não tem a sofisticação da mesa dos ricos.
A primeira mensagem de João é o convite à conversão (v. 1), porque o Reino dos Céus está próximo. Talvez estivesse movido pela expectativa da época quanto à vinda iminente do Reino, como um juízo severo de Deus que destruiria os maus e edificaria, com os bons, o mundo novo. Isto se evidencia na imagem utilizada do machado posto à raiz das árvores que cortará aquelas que não produzirem frutos e as lançará ao fogo (Cf. v. 10). Sua pregação é dura, sobretudo contra os fariseus e saduceus, que, junto a tantos outros, acorreram a João, talvez por curiosidade, pois se julgavam privilegiados e filhos de Abraão que não precisavam de conversão. Eles são chamados de raça de cobras venenosas e são exortados a produzirem frutos que provem a conversão. Não é suficiente dizer-se filho de Abraão para ser salvo, mas ter conduta íntegra. Ao contrário daqueles, o povo pobre que vai a João se reconhecia pecador, confessava seus pecados e recebia o batismo como um rito penitencial, com o sincero desejo de mudar de vida. O convite à conversão implicava o compromisso de mudar de mentalidade, retomar a fidelidade à aliança firmada com Deus, abrir o coração para acolher a novidade enviada por Deus: seu filho Jesus Cristo. João tem consciência do valor de Jesus e de que o batismo que Ele instituirá, fruto do seu amor manifestado até à morte, não será um simples rito penitencial, mas ação do Espírito Santo.
Mateus destaca que João foi anunciado pelo profeta Isaías como “voz daquele que grita no deserto” (v. 3), convidando a preparar o caminho do Senhor e endireitar suas veredas. Dom Tomás Balduíno, que faria 100 anos no dia 31 deste mês, meu saudoso predecessor na Diocese de Goiás, no dia que foi acolhido como bispo em 1967, comentava sobre o sentido da voz de João Batista. Dizia que ele não cessou de falar e que a sua voz não emudeceu ao lhe cortarem o pescoço, porque hoje ele é a Igreja, o Povo de Deus, que tem a missão de continuar a preparar os caminhos do Senhor. Esta preparação dos caminhos do Senhor não se restringe à liturgia para as celebrações natalinas, mas envolve toda a nossa vida. A Igreja deve fazer ressoar com vigor e coragem sua voz profética, convidando à preparação do caminho do Senhor, à revisão de vida, a endireitarmos os passos. E há muitos caminhos tortos! Mesmo que pareça gritar no deserto, que seja incompreendida, e sofra perseguição por anunciar os valores do Reino trazido por Jesus Cristo, ela não pode calar. Sua voz deve renovar a esperança dos empobrecidos e ser advertência aos poderosos que os exploram.
Advento é tempo de se deixar cativar pelo amor de Deus. É tempo de preparar alegremente o coração para acolher o Senhor que sempre vem ao nosso encontro. Exupéry descreve o bonito encontro entre o pequeno príncipe e a raposa. Diz, na voz da raposa, que para se estabelecer uma amizade é necessário cativar-se, isto é, deixar-se atrair um ao outro. Diz ainda que, depois da amizade firmada, depois de cativados, cada encontro é aguardado com grande expectativa e alegria. Para isto é necessário ter um ritual, o que faz com que um dia seja diferente dos outros. Quem aguarda a pessoa amada já começa a ser feliz bem antes da sua chegada. Nós aguardamos a vinda de Jesus e para isto nos preparamos no ritual oferecido pela Igreja neste tempo do Advento, que vai para além da liturgia. Temos a certeza de que o Senhor sempre vem, que Ele não nos abandona. Vivamos essa feliz expectativa!
Durante o tempo do Advento, a Igreja no Brasil realiza a campanha da Evangelização convidando-nos a assumir a tarefa evangelizadora e contribuir com a nossa oferta para isso. “Evangelizar: graça e missão que se dá no encontro” é o tema deste ano, em sintonia com o Ano Vocacional em curso. Não é possível evangelizar sem o encontro entre as pessoas. No próximo domingo será a coleta, que ajudará a evangelização, destinando os valores em percentuais diferenciados à própria diocese, ao regional e à CNBB nacional. Faça a sua oferta com generosidade e satisfação na sua comunidade.
Queridos amigos e queridas amigas, preparemos com alegria os caminhos do Senhor. Ajudemos a destruir os muros que nos tornam inimigos. Edifiquemos pontes que nos unam fraternalmente. Abramos o nosso coração à reconciliação com Deus e com os irmãos. Acolhamos o Senhor que sempre vem ao nosso encontro! Ainda nos restam três semanas de preparação. Neste período, dediquemos mais tempo à oração, à meditação da Palavra de Deus, ao exercício da caridade cristã. Uma boa sugestão de preparação é participar da novena de natal em família. Não desperdicemos esse precioso tempo de preparação para acolher o Senhor. Vem Senhor Jesus!
+Dom Jeová Elias
Bispo Diocesano