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Advento: tempo de esperançar

Iniciamos neste domingo o tempo do Advento, um novo ano na nossa liturgia. A palavra Advento significa vinda, chegada. O Advento transcorrerá durante as próximas quatro semanas e se caracteriza como um tempo de alegre expectativa para a vinda do Senhor. É um tempo encantador, em que nos preparamos para celebrar a entrada de Deus na nossa história, que se faz humano em Jesus Cristo, para resgatar o ser humano da sua fraqueza e devolver a sua dignidade. A Encarnação de Jesus é a devolução da dignidade do ser humano. Ao longo deste novo ano litúrgico seremos iluminados pelos textos do evangelista Mateus.

A liturgia do tempo do Advento contém dois períodos: até o dia 16 de dezembro, pondo em destaque a preparação para o encontro definitivo com Jesus; e do dia 17 a 24 de dezembro, convidando à preparação mais direta para a celebração do Natal. No primeiro período, a liturgia destaca a figura do profeta Isaías e a pessoa do profeta João Batista, que representam a expectativa humana da vinda do Messias prometido. No segundo período, destaca-se a figura de Maria, em quem o Verbo de Deus se faz carne. É tempo de piedosa e alegre expectativa da vinda do Senhor.

A expectativa para a vinda do Messias prometido não pode ser atitude passiva, mas um esperançar. Não é ficar parados, de braços cruzados, mas fazer acontecer a hora de Deus. É ter ânimo para transformar os sinais do anti-reino, é correr atrás dos sonhos de um mundo melhor, é não desistir deles; é juntar as mãos a outras mãos e somar forças na busca da concretização dos ideais semeados por Jesus, que devemos acolher. É, juntos e juntas, abrir o coração para receber o Senhor que insiste sempre em nos encontrar.

A esperança, marca da espiritualidade deste tempo litúrgico, não é sinônimo de omissão ou indiferença, mas algo positivo, que nos anima, nos impulsiona para o futuro, nos ajuda a caminhar, mesmo que o momento presente seja marcado por algumas dificuldades. Ainda vivemos a incerteza quanto ao futuro com a pandemia, além do temor de outras enfermidades que poderão surgir, e o risco de perda da esperança. Mas, como diz Ivan Lins, “desesperar, jamais. Aprendemos muito nestes anos. Afinal de contas, não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo. Nada de correr da raia, nada de morrer na praia”.  Amanhã poderá ser melhor, dependendo das lições que assimilarmos desse tempo sofrido. Sonhemos e nos empenhemos na busca da cura das enfermidades, sobretudo da cura do vírus mais letal de todos: o do egoísmo e da indiferença de muitos seres humanos. A esperança, mais do que uma virtude humana, é  dom de Deus infundido no nosso coração, que dá sentido à nossa vida e nos ajuda a caminhar.

A vinda definitiva de Jesus ao encontro de cada pessoa é certa, mesmo que não saibamos quando se dará. Enquanto não ocorre, devemos estar atentos, preparados para esse encontro, vivendo conforme o ensinamento dele. Os capítulos 24 e 25 do Evangelho de Mateus trazem um longo discurso de despedida de Jesus, tendo como central a vinda do Filho do Homem e como os discípulos devem se preparar para acolhê-lo. O verbo vir aparece seis vezes no texto. O objetivo do evangelista era fazer com que os cristãos não desanimassem diante da aparente demora da vinda de Jesus, pois já fazia 10 anos que o templo de Jerusalém tinha sido destruído, e nada dele retornar. O estilo literário utilizado por Mateus, chamado apocalíptico, era comum no judaísmo e também entre os cristãos de então. Caracteriza-se pelo uso de muitas imagens simbólicas, e pretendia animar as pessoas em tempo de dificuldades e perseguições e renovar a sua esperança, mostrando que a vitória final pertence a Deus e àqueles que perseverarem na fidelidade a Ele.

Para manifestar a certeza da vinda do Filho do Homem, mas em tempo indeterminado, convidando as pessoas a se prepararem, Mateus usa três comparações: com a humanidade no tempo de Noé, que vivia despreocupada, apenas se divertindo, e é surpreendida pelo dilúvio, sucumbindo; com as pessoas atarefadas com o trabalho, que descuidam de outros aspectos importantes da vida, que não se preocupam com a vinda do Senhor; com o dono da casa que dorme, sem temer a possibilidade de ser roubado. O que crê em Jesus não pode adormecer e desperdiçar a oportunidade de acolhê-lo. Essencialmente, quem acredita na pessoa de Jesus deve estar atento, pois Ele virá ao seu encontro; nada poderá distrair a atenção de quem acredita em Jesus.

Mateus convida a estarmos preparados e vigilantes para não sermos surpreendidos com a vinda do Filho do Homem (v. 44). Vigilância não é atitude de um policial para evitar que algo ruim aconteça, mas prontidão para fazer sempre o bem, para não desperdiçar o tempo naquilo que não é tão importante ou prioritário. E quanto tempo desperdiçamos em coisas insignificantes ou dispensáveis! É estar atento ao que é importante e saber tratar o relativo como tal. É priorizar os gestos de amor. É ter a sensibilidade para perceber e acolher em cada pessoa que vem ao nosso encontro o próprio Jesus Cristo, sobretudo naquelas pessoas que fazem parte do nosso convívio e nas mais fragilizadas.

Quem crê em Jesus Cristo deve reconhecer a relatividade das coisas e o absoluto de Deus: “Tudo passa, só Deus basta” (Santa Teresa).  Deve estar sempre atento e preparado para acolher o Senhor que vem. Não pode deixar-se distrair com os bens temporais, nem viver obcecado com eles, colocando-os em primeiro lugar.

Neste bonito tempo do Advento, renovemos a esperança e recuperemos o olhar contemplativo, a sensibilidade a escutar; reconheçamos a presença do Senhor na nossa caminhada, que muitas vezes passa despercebida. Escutemos o Senhor que nos fala, não somente na palavra escrita, mas também nos fatos da vida. Abramos os nossos ouvidos, tenhamos momentos de silêncio para escutar o Senhor, momentos para vivenciar encontros amorosos com os irmãos e irmãs, para intensificar a nossa vida de oração. Momentos para vivenciar com mais profundidade a vida sacramental, especialmente a Eucaristia, e, se necessário, também o encontro com Deus misericordioso que nos ama e que nos perdoa no sacramento da reconciliação.

+Dom Jeová Elais

Bispo Diocesano

 

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