Por: Pe. Mauro Francisco dos Santos
A liturgia da Igreja, que tem o admirável poder de evocar o passado e torná-lo presente, apresenta frequentemente aos olhos dos fiéis a figura da Mãe do Senhor, que “abraçou de todo coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus onipotente o mistério da redenção” (LG 56).
Com e como Maria a Igreja crê, espera, ama, celebra, vive o mistério de Cristo, pelegrinando rumo à plena participação no Reino do Céu, de onde pregusta o sinal da liturgia. Com ela a Igreja associa sua voz, bendiz a Deus Pai e glorifica-o com o seu mesmo cântico de louvor (Magnificat – Lc 1,39-56); junto dela quer escutar a palavra de Deus e meditá-la assiduamente em seu coração; com ela deseja tomar parte no mistério pascal de Cristo e associar-se à sua obra da redenção; imitando-a, quando ela orava no Cenáculo com os Apóstolos, implora incessantemente o dom do Espírito Santo (At 2,1ss); Invoca a sua intercessão, recorre ao seu amparo, pede-lhe que visite o povo cristão e lhe alcance as suas graças e finalmente com ela, que protege benignamente os seus passos, dirige-se confiadamente ao encontro de Cristo.
Precisamente pela atitude interior de escuta e oração, Maria é capaz de ler a própria história, reconhecendo com humildade que é o Senhor quem age. Em visita à prima Isabel, Ela irrompe numa oração de louvor e de alegria, de celebração da graça divina, que encheu o seu coração e a sua vida, tornando-a Mãe do Senhor (cf. Lc 1,46-55). Louvor, ação de graças e alegria: no Magnificat, Maria não olha só para aquilo que Deus realizou nela, mas também para quanto Ele fez e faz continuamente na história. Num célebre comentário ao Magnificat, Santo Ambrósio convida a ter o mesmo espírito na oração, e escreve: “Esteja em cada um a alma de Maria, para enaltecer o Senhor; esteja em cada um o espírito de Maria para exultar em Deus” (Expositio Evangelii secundum Lucam 2, 26: PL 15,1561).
A Sagrada Palavra de Deus nos recorda que entre a Ascensão do Ressuscitado e o primeiro Pentecoste cristão, os Apóstolos e a Igreja reúnem-se com Maria para esperar com Ela o dom do Espírito prometido, sem o qual não podemos tornar-nos testemunhas. Como bem lembrou o Papa Bento XVI que “se não há Igreja sem Pentecostes, também não há Pentecostes sem a Mãe de Jesus” (Catequese, quarta-feira, 14/03/2012).
O Concilio Vaticano II quis ressaltar de modo particular este vínculo, que se manifesta visivelmente na oração conjunta de Maria e os Apóstolos, no mesmo lugar, à espera do Espírito Santo. A Constituição dogmática sobre a Igreja afirma: “Tendo sido do agrado de Deus não manifestar solenemente o mistério da salvação humana antes que viesse o Espírito prometido por Cristo, vemos que, antes do dia de Pentecostes, os Apóstolos perseveravam unanimemente na oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e os seus irmãos, implorando Maria, com as sua orações, o dom daquele Espírito, que já descera sobre si na Anunciação” (LG 59).
Maria viveu toda sua vida em oração. Ela, fortalecida pela oração do povo de Israel na espera messiânica, gerou o Verbo Divino – o esperado. Ela fez de sua vida uma oração encarnada e entregue ao plano salvífico do Pai do céu. Ela ensinou seu Filho a balbuciar suas primeiras orações, mas depois ela mesma se fez discípula na escola de oração filial de Jesus. Ela se fez mãe e mestra sempre unida à Igreja de seu Filho. Por isso, o lugar privilegiado de Maria é a Igreja, onde é “saudada como membro eminente e inteiramente singular… seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade.
Maria não se limita a uma primeira compreensão superficial daquilo que acontece na sua vida como vimos, mas sabe olhar em profundidade, deixa-se interpelar pelos eventos, elabora-os, discerne-os e alcança aquele entendimento que só a fé pautada na oração pode garantir. É a humildade profunda desta mulher orante e obediente que Maria, que acolhe em si mesma também aquilo que não compreende no agir de Deus, deixando que seja Deus quem abre a sua mente e o seu coração. “Feliz daquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45), exclama a sua prima Isabel. É precisamente pela sua fé e oração que todas as gerações lhe chamarão ditosa. Amém.